De quem é o rosto que a cabeça da esfinge de Gizé, que vemos ao lado, tenta retratar? Como há indícios de que o construtor daquele monumento teria sido Kéfren, acredita-se que a cabeça do leão tenha sido esculpida à semelhança daquele faraó. Isso será mesmo verdade? Os estudiosos que defendem a tese de que a esfinge é anterior à época de Kéfren negam totalmente essa semelhança. John Anthony West, um dentre tais estudiosos, chegou a recrutar a ajuda de um artista policial forense para dirimir as dúvidas a respeito do assunto. Se a face da esfinge não se assemelha à de Kéfren, isso é uma evidência de que um outro faraó mandou esculpir o leão.
A esfinge foi esculpida na pedra calcária e isso, sem dúvida nenhuma, apresentou certas limitações devido às camadas da pedra, às fissuras, à friabilidade, fatores que poderiam afetar sua forma. A face da esfinge foi esculpida, provavelmente, por uma equipe de trabalhadores e não por um único artista e, é óbvio, o rei não posou enquanto a imagem foi criada. Ambos estes fatores poderiam causar um desvio adicional da realidade. Vejamos exemplos dessas dificuldades: o olho esquerdo está mais acima do que o direito e a boca um pouco descentralizada; o eixo do contorno da cabeça difere do eixo das características faciais; a qualidade dos detalhes que aparecem na face da estátua de diorito de Kéfren está ausente na face da Esfinge. Existe ainda o problema da ausência do nariz da figura. O que teria acontecido com ele? Segundo consta, as tropas de Napoleão Bonaparte teriam usado o nariz para exercício de tiro ao alvo em 1798. Desenhos feitos para a grande obra dos cientistas que acompanharam o imperador francês, La Description de L'Egypte, mostram a esfinge sem nariz. Desenhos feitos em 1579 por Johannes Helferich, bem como os que foram feitos em 1737 pelo viajante britânico Richard Pococke mostram um nariz na esfinge. Entretanto acredita-se que, nos dois casos, tratou-se apenas de uma liberdade dos artistas. Helferich chegou a delinear a figura com traços nitidamente femininos. Por outro lado, Frederick Lewis Norden, artista e arquiteto, também esboçou a esfinge em 1737 em desenhos bem detalhados que foram publicados em 1755. Nesse caso o trabalho era bem mais realístico e nele a esfinge aparece sem nariz. Acredita-se improvável que Norden omitisse o nariz se ele lá estivesse. Portanto, é bem provável que o nariz da esfinge tenha sido destruído antes de 1737 e não caberia culpa às tropas de Napoleão pelo seu desaparecimento. Uma narrativa interessante apresentada pelo historiador Muhammad al-Husayni Taqi al-Din al-Maqrizi, falecido por volta de 1442, em um livro editado em 1913, afirma que a face da esfinge, mais especificamente o nariz e as orelhas, foi destruída em 1378 por um rei persa chamado Sa'im al-dahr. A razão para o vandalismo teria sido a de corrigir alguns erros religiosos. Naquela época alguns egípcios ainda faziam oferendas ao pé da esfinge, enquanto repetiam um verso 63 vezes na esperança de terem seus desejos satisfeitos. Nessa ocasião a areia invadiu a terra cultivada de Gizé e as pessoas atribuiram o fato à deformação do rosto da esfinge. O curioso é que o historiador menciona que as orelhas foram destruídas, mas isso não corresponde à realidade, pois elas ainda estão no lugar. |